Quem sou eu

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Me chamo Luana Molina, sou professora de História e Filosofia nas redes públicas e privadas da cidade de Londrina e Cambé. Sou graduada em História, Especialista em Psicologia Aplicada à Educação, Mestre em História Social na linha de pesquisa em História e Ensino e Doutoranda no Programa de Educação; Desenvolvo pesquisas na área de Diversidade Sexual e Educação Sexual e palestrante e consultora desta mesma temática para jovens/adolescentes, pais e escolas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A Autoridade - Eduardo Galeano

Em épocas remotas, as mulheres se sentavam na proa das canoas e os homens na popa. As mulheres caçavam e pescavam. Elas saíam das aldeias e voltavam quando podiam ou queriam. Os homens montavam as choças, preparavam a comida, mantinham acesas as fogueiras contra o frio, cuidavam dos filhos e curtiam as peles de abrigo.
Assim era a vida entre os índios onas e os yaganes, na Terra do Fogo, até que um dia os homens mataram todas as mulheres e puseram as máscaras que as mulheres tinham inventado para aterrorizá-los.
Somente as meninas recém-nascidas se salvaram do extermínio. Enquanto elas cresciam, os assassinos lhes diziam e repetiam que servir aos homens era seu destino. Elas acreditaram. Também acreditaram suas filhas e as filhas de suas filhas.

Galeano, Eduardo. In: Mulheres. Porto Alegre. L&PM,2007. p. 11

Problemas de Homens - José Saramago

Problema de Homens (por José Saramago)
Vejo nas sondagens que a violência contra as mulheres é o assunto número catorze nas preocupações dos espanhóis, apesar de que todos os meses se contem pelos dedos, e desgraçadamente faltam dedos, as mulheres assassinadas por aqueles que creem ser seus donos. Vejo também que a sociedade, na publicidade institucional e em distintas iniciativas cívicas, assume é certo que só pouco a pouco, que esta violência é um problema dos homens e que o homem tem que resolver.
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De Sevilha e da Estremadura espanhola chegaram-nos, há tempos, notícias de um bom exemplo: manifestações de homens contra a violência. Até agora eram somente as mulheres que saíam à praça pública a protestar contra os contínuos maus tratos sofridos às mãos dos maridos e companheiros (companheiros, triste ironia esta), e que, a par de em muitíssimos casos tomarem aspectos de fria e deliberada tortura, não recuam perante o assassínio, o estrangulamento, a punhalada, a degolação, o ácido, o fogo


A violência desde sempre exercida sobre a mulher encontrou no cárcere em que se transformou o lugar de coabitação (neguemo-nos a chamar-lhe de lar) o espaço por excelência para a humilhação diária, para o espancamento habitual, para a crueldade psicológica como instrumento de domínio.

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É o problema das mulheres, diz-se, e isso é verdade. O problema é dos homens, do egoísmo dos homens, do doentio sentimento possessivo dos homens, da poltronaria dos homens, essa miserável covardia que os autoriza a usar a força contra um ser fisicamente mais débil e a quem foi reduzida sistematicamente a capacidade de resistência psíquica.

Há poucos dias, em Huelva, cumprindo as regras habituais dos mais velhos, vários adolescentes de treze e catorze anos violaram uma rapariga da mesma idade com uma deficiência psíquica, talvez por pensarem que tinham direito ao crime e á violência. Direito de usar o que consideravam seu. Este novo ato de violência de gênero, mais os que se produziram neste fim de semana, em Madrid uma menina foi assassinada, em Toledo uma mulher de 33 anos morta diante de sua filha de seis anos, deveriam ter feito sair os homens à rua. Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de gênero, como resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia.

O que é ser trans?

O que é ser trans? Entenda mais sobre a questão que vai muito além de ter pênis ou vagina

O conceito é importante para esclarecer outros fato. Gênero vai além do fato de alguém nascer com pênis ou vagina; entenda.

Sabe aquilo que a gente aprende nos livros de biologia, de que se alguém nasce com pênis é homem ou se tem vagina é mulher? Não é bem assim. É o que garante a representante da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Governo da Bahia, Paulett Furacão.
“No meu caso, que é o de uma mulher trans, digo que nasci num corpo biologicamente masculino, mas, espiritualmente, tenho alma feminina. Não se trata apenas de corpo ou jeito. É mais interno, profundo. É algo que me define como pessoa”, diz Paulett, que é a primeira trans a trabalhar no governo do estado. 
No caso dos homens trans, quem explica é Leonardo Peçanha: “É alguém que, ao nascer, foi registrado e designado a viver de maneira diferente daquela com a qual se identifica. Por isso, acaba sendo socializado no feminino e vivendo parte da vida sendo lido de uma maneira com a qual não se enxerga”.
Ele é coordenador nacional de pesquisas do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat) e diretor do coletivo TransRevolução. Miguel Marques, criador da página Homens Transgêneros, no Facebook, vai num ponto mais simples. “É um homem como qualquer outro. Só não nasceu biologicamente com o sexo masculino e precisou passar por uma readequação”, pontua o rapaz.
A TRANSIÇÃO“Cada pessoa sabe de si e do que precisa para se sentir bem. O processo pode incluir ou não tomar hormônio, fazer ou não cirurgias... A questão é muito maior e mais complexa do que isso”, afirma Miguel.
Para Leonardo, o processo que pode culminar com a cirurgia costuma esbarrar no preconceito médico. “Isso varia muito de acordo com a idade, local onde vive e situação financeira da pessoa. Tudo começa no acompanhamento psicológico e e psiquiátrico para obter o tratamento hormonal e depois as cirurgias. É muito difícil porque os médicos têm resistência a nos atender”, diz o pesquisador.
CIS“Outra noção-chave para continuar a entender esse universo é a de cisgênero. “Cis é uma pessoa que foi designada da maneira com a qual se identifica e sente”, esclarece Leonardo. Por exemplo: um homem que foi registrado assim e está feliz desse jeito.
O conceito é importante para esclarecer outro fato. Assim como as pessoas cis, as trans podem ser hétero, gays, bissexuais, assexuais ou quantas possibilidades a sexualidade humana comportar.
“Por exemplo, um homem trans pode ser gay e se relacionar com um outro homem, seja ele cis ou trans. E nada disso interfere no fato dele ser homem”, exemplifica o pesquisador. Não entendeu? A gente desenhou no infográfico “Pra Começar”. 
Mas se ser gay, lésbica ou bissexual é orientação sexual e ser homem ou mulher (cis ou trans) está no campo do gênero, por que os trans fazem parte da sigla da Parada LGBT, que acontece neste domingo (13), no Campo Grande?
“Somos grupos de pessoas vulneráveis e estigmatizadas socialmente. Claro que cada um tem especificidades. Mas todos sofrem por transgredir imposições do machismo e do sexismo e por não querer pertencer aos rótulos tradicionais”, explica Paulett. A opinião não é consenso no movimento trans.
Os baianos Miguel Marques, 23, e Victor Summers, 20, são estudantes de psicologia. Ambos são homens trans, sendo que o primeiro é hetero e o segundo é gay. Há pouco mais de 2 meses, criaram no Youtube o canal Transviados
A ideia é responder, da maneira mais simples possível, até aquelas questões de deixar em pé os cabelos das mais beatas. Tipo “Como homens trans fazem sexo?”, título do vídeo mais assistido até então, com quase metade dos acessos do canal. Com apenas oito postagens, eles somam mais de 56 mil visualizações. Conheça um pouco mais dos meninos. 
Os estudantes Victor Summers e Miguel Marques, criadores do canal Transviados: mais de 56 mil acessos
(Foto: Angeluci Figueiredo)
Como nasceu o canal?
Miguel: Eu já tinha a página Homens Transgêneros, no Facebok. Com Victor, criei o canal para amplificar ainda mais essas questões e tentar atingir e ajudar mais gente.   
A que atribuem o sucesso? 
Victor:  Acho que as pessoas não estão acostumadas a ouvir falar sobre o assunto e têm curiosidade. O homem trans sempre ficou meio oculto porque, com seis meses de tratamento hormonal, já não dá para diferenciar de um homem cis. O povo só descobre se o trans falar. E a gente tá dando a cara a tapa. Queremos sair da posição confortável e puxar a discussão sobre o assunto, que é importante.
A informalidade também facilita. Tentamos sempre fazer da maneira mais simples. Queremos que até uma pessoa cis que nunca ouviu falar de trans consiga entender. É pra essas pessoas que falamos. Notamos que pesquisadores e militantes usam termos muito inacessíveis e acabam só falando pra quem já conhece as questões. Precisamos fazer com que essas informações saiam do meio trans e cheguem ao mundo. Para que as pessoas que oprimem tenham empatia e parem de oprimir. 
O que de mais legal saiu disso?
V: Recebemos uma mensagem de um menino de 12 anos outro dia. Ele é do interior da Paraíba. Disse que acha que é trans, mas não entende direito o que acontece. Não tem como pesquisar muito, a família também não ajuda...
Saber que estamos chegando e ajudando um bocado de gente é o que mais me alegra. Outra coisa boa foram os contatos e amigos. Outro dia um amigo me perguntou se eu escolheria nascer cis, caso pudesse. Eu disse que não sei. Porque eu não teria conhecido as pessoas que conheço hoje.  Quase todos os meus contatos vêm do fato de seu ser trans e estar inserido no meio LGBT de Salvador.  
Como foi a transição de vocês?
M: Cada um tem suas particularidades. Ambos fizemos a mamoplastia masculinizadora (retirada dos seios) e recebemos, há cerca de três anos, tratamento com hormônio. Mas cada um tem seu tempo. Como meu metabolismo é mais rápido, eu tomo injeção a cada 12 dias. Já Victor é a cada 20 dias. 
Como a transfobia os atinge?
M: Tive que sair de casa para fazer a transição porque minha mãe é muito católica e intolerante. Eu sofria violência. Até hoje ela me ofende e violenta verbalmente por telefone. Estou sem estudar porque teve problemas com meu nome social na faculdade.
Não tava conseguindo usar e passei por situações terríveis. Fui à ouvidoria, à reitoria...  E disseram que o sistema não comportava. Por que não mudaram o sistema, então? Depois, o DCE abraçou a causa e a questão se resolveu. Mas já não estou disposto a voltar para lá depois de tudo que passei. Tive crise de pânico, fobia de pessoas...
V:  Na minha família foi menos dolorido, especialmente por parte de mãe. Eles e meus irmãos foram muito inclusivos. A exceção foi meu pai, que disse que que poderia me pagar uma lipoaspiração para resolver o problema que ele acreditava ser fruto de baixa autoestima. Minha avó paterna também fez um escândalo. Até hoje ela me chama no feminino. Ela liga cobrando convivência e eu sinto falta, mas me sinto muito desconfortável de visitá-la e ser tratado de um jeito que me faz sentir mal.
Conheça o canal 'Transviados', dos estudantes Victor Summers e Miguel Marques
A Travesti ReflexivaA estudante sergipana de Psicologia Sofia Favero é um dos maiores expoentes da luta contra machismo, homofobia, lesbofobia e transfobia na internet. Há cerca de dois anos ela criou, no Facebook, a página Travesti Reflexiva, que hoje soma mais de 155 mil  curtidas. 
Com 22 anos, ela nasceu e mora em Aracaju. Ano passado, no mês de maio, virou estatística e manchete em veículos de comunicação por todo o Brasil. Quando estava num ônibus, indo para a faculdade, ela sofreu assédio sexual, chegou a ser ameaçada com uma faca e foi agredida por um homem.
Sofia Favero, criadora da página Travesti Reflexiva: mais de 155 mil curtidas no Facebook
(Foto: Reprodução/Facebook)
NA TELEVISÃO
Caitlyn Jenner: O atleta americano Bruce Jenner era medalhista olímpico e participante de um dos reallity shows de maior sucesso nos Estados Unidos, Keeping Up With The Kardashians. A surpresa foi grande quando ele anunciou que, na verdade, era uma mulher. Passou pelo processo de transição e assumiu publicamente o gênero feminino, adotando o nome de Caitlyn. Na ocasião, foi capa da revista Vanity Fair.
Jamie Clayton: Há cerca de cinco anos, a loira estreou na série Hung, do canal fechado HBO, como Kyla. Depois, foi uma das protagonistas da web série Dirty Work, que venceu o Emmy. Este ano, estreou na série Sense8 (Netflix) como a hacker Nomi. Na trama, sua personagem é uma mulher transexual lésbica. Mês passado, Jamie foi vista aos beijos com o ator Keanu Reeves. 
Laverne Cox: Uma das estrelas da série Orange Is The New Black (Netflix), na qual vive a presidiária Sophia Burset, que é uma mulher transexual. Pelo papel, ela foi a primeira atriz trans indicada ao Emmy (o Oscar da televisão).  Deve estrear no cinema em breve, no filme Grandma, da diretora Lily Tomlin, distribuído pela Sony Pictures.
 Fonte da Reportagem: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/o-que-e-ser-trans-entenda-mais-sobre-a-questao-que-vai-muito-alem-de-ter-penis-ou-vagina/ cHash=378974b48ccce643bb018f5723061319

Vamos pensar um pouquinho sobre a Orientação Sexual?

Olha que interessante para entendermos melhor os conceitos e  a linda diversidade e pluralidade humana 



domingo, 13 de setembro de 2015

Violência contra mulheres

Pessoal,

este dossiê  visa contribuir para a ampliação e aprofundamento do debate sobre as vivências das mulheres lésbicas e trans nos meios de comunicação tradicionais e nas mídias sociais.

Link de acesso: http://agenciapatriciagalvao.org.br/

LGBTFobia

Animação explica o parto para crianças

O projeto Universidade das Crianças, que reúne professores e pesquisadores para responder perguntas de crianças, preparou uma animação com uma linguagem bem simples para explicar como os bebês nascem.

acessem o link em : https://catraquinha.catracalivre.com.br/geral/cuidar/indicacao/animacao-explica-o-parto-com-linguagem-simples-para-criancas/

Enfrentamento à Homofobia

Guia de Orientación Educativa para Diversidad de Género del Ministério de Educación de Buenos Aires.

Pessoal,

Segue o link para acessar o Guia de Orientação Educacional sobre Diversidade Sexual criado pelo Ministério da Educação na Argentina.

Vale a leitura.

http://www.buenosaires.gob.ar/sites/gcaba/files/diversidad.pdf

Congresso Internacional de Educação Sexual / 2015

Pessoal, o COES é um congresso 100% On-Line sobre Educação Sexual e envolvem a UNESP, UDESC E Universidade de Lisboa/ Portugual

Segue a programação que ocorre entre os dias 05 e 07 de Novembro




Link para inscrição e mais informações: http://www.coesinternacional.com/2015/

Livro: Educação Sexual para Crianças com temática trans

Pessoal, olha que interessante a iniciativa deste professor de uma escola em Toronto/Canadá que escreveu um livro de educação sexual para crianças no intuito de explicar quem são as pessoas transgêneras.

Ter pênis não é o que faz de você um menino': livro de educação sexual para crianças aborda vivências transgênero


Lançado no Canadá, 'Sex is a funny word' é voltado para crianças entre 8 e 10 anos e contempla jovens que não correspondem a normas de gênero: 'elas têm a cabeça bastante aberta, e muitas pessoas têm medo disso', diz autor.

A primeira coisa que você deve saber sobre sexo é que 'sexo' é uma palavra", escreve Cory Silverberg, educador sexual de Toronto e autor do livro “Sex is a funny word” [“Sexo é uma palavra engraçada”, em tradução livre] junto com a ilustradora Fiona Smyth. O livro didático infantil, que chegou às livrarias do Canadá em julho, tem como protagonistas quatro crianças de diferentes gêneros, etnias e habilidades. O texto lida com questões usuais – alterações do corpo na puberdade, crescimento de pelos, mamilos extras – antes de chegar aos temas que poucos livros infantis ousaram abordar. "Ter um pênis não é o que faz de você um menino", diz o livro. "A verdade é muito mais interessante do que isso!"
Este talvez seja o primeiro livro infantil de educação sexual a lidar com as questões de crianças transgênero ou com identidades de gênero diversas, tendo como público-alvo crianças de 8 a 10 anos de idade. O último livro infantil de Silverberg, "What makes a baby” [“O que faz um bebê”, em tradução livre], tratou da doação de esperma e de famílias não convencionais, mas “Sex is a funny word” dá um grande passo ao abordar políticas de gênero e identidade. "Quando nascemos, um médico ou parteira diz que somos um garoto ou uma garota. Mas isto se baseia em nosso aspecto exterior, em nossa aparência e naquilo que eles acreditam que somos", escreve Silverberg. "E quanto ao que nós próprios pensamos ser?"
Silverberg coloca grandes questões em um momento crucial. Na era de Caitlyn Jenner e Laverne Cox, estrela da série “Orange is the New Black”, o reconhecimento das pessoas transgênero está lentamente aflorando entre as gerações mais jovens. O filme "Stealth", que esteve na programação infantil do Festival de Cinema Internacional de Toronto (TIFF), conta a história de uma garota trans de 12 anos de idade. Em meados de julho, o canal de TV canadense TLC estreou "I am Jazz", programa com a ativista transgênero de 14 anos Jazz Jennings.
O gênero como um espectro e não uma característica binária é um conceito bastante compreensível para as crianças de hoje, argumenta Silverberg. De acordo com uma pesquisa com 1.000 pessoas conduzida pelo site Fusion, 57% das mulheres e 44% dos homens entre 18 e 34 anos acreditam que o gênero é um gradiente. Desde muito mais jovens, no entanto, as crianças já compreendem o conceito. "As crianças não conhecem a terminologia, mas, enquanto brincam no parque, sabem se são garotas com características masculinas ou garotos com características femininas", diz Silverberg. "Elas têm a cabeça bastante aberta, e muitas pessoas têm medo disso".
Estas pessoas são normalmente os próprios pais, diz Christine Baldacchino, professora de uma creche em Toronto. "Havia um garoto de quatro anos em minha sala que adorava usar um vestido dourado", diz. "Um dia, sua mãe o viu usando o vestido e disse à diretora que não queria que ele o usasse mais".  A diretora achou que seria mais fácil remover o vestido do armário da escola. "Ao longo de vários dias, ele perguntou sobre seu vestido preferido: para onde o haviam levado, se ele tinha sido mandado para a lavanderia ou estava sendo consertado, se o trariam de volta.”
Por fim, o menino entendeu o que havia acontecido. "Ele disse: 'Se vocês trouxerem o vestido de volta, eu prometo que não o uso mais'", conta Baldacchino, que na infância foi uma “menina-joãozinho” e, portanto, está familiarizada com as regras de gênero impostas às crianças. "Aquilo partiu meu coração e, por isso, escrevi um livro sobre o assunto". “Morris Micklewhite and the tangerine dress” [“Morris Micklewhite e o vestido tangerina”, em tradução livre] foi lançado no Canadá em abril de 2014, recebendo críticas muito positivas – a maior parte delas, pelo menos. "Uma bibliotecária me contou que um garoto pegou o livro emprestado e sua mãe o obrigou a devolver", diz Baldacchino. "Em seguida, ela tentou fazer com que o livro fosse removido do acervo da biblioteca".
Morris Micklewhite e seu vestido laranja, livro de Christine Baldacchino
Morris Micklewhite e seu vestido laranja, livro de Christine Baldacchino
Baldacchino escreveu pensando nas crianças trans, mas seu livro também se dirige a pessoas "cisgênero", as que se identificam com o gênero que lhes foi designado na infância, isto é, a maioria das pessoas. Muitos adultos não gostam desta ambiguidade. "Muitos pais querem uma resposta sobre se a personagem Morris é gay ou trans. Eu não sei responder!", diz ela. "Ele tem apenas quatro anos".

Há muitas crianças semelhantes a Morris, mas apenas algumas delas chegarão a realizar uma transição completa de gênero, diz Miriam Kaufman, da Clínica para a Juventude Transgênero, no Hospital Pediátrico de Toronto. No meio tempo, ela diz que bloqueadores hormonais "dão às pessoas jovens algum tempo para pensar sobre sua identidade e viver em seu corpo da forma como ele está naquele momento".
Livros como os de Baldacchino e Silverberg, que tiveram Kaufman como consultora, representam uma mudança nas ideias e nas conversas sobre o assunto entre pais e filhos. "Esta é uma excelente oportunidade para que os pais conversem com seus filhos sem ter de empregar a palavra 'eu'", diz Kaufman.
Silverberg também convidou crianças a lerem o livro antes da publicação. Elas recebem “Sex is a funny word” muito bem, diz. "O livro é massa porque você se envolve muito com ele", disse Bronwyn, de 8 anos de idade, uma das crianças consultadas por Silverberg. "Uma das coisas de que mais gostei foi o fato de que cada personagem é diferente".
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/41246/ter+penis+nao+e+o+que+faz+de+voce+um+menino+livro+de+educacao+sexual+para+criancas+aborda+vivencias+transgenero.shtml