Quem sou eu

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Me chamo Luana Molina, sou professora de História e Filosofia nas redes públicas e privadas da cidade de Londrina e Cambé. Sou graduada em História, Especialista em Psicologia Aplicada à Educação, Mestre em História Social na linha de pesquisa em História e Ensino e Doutoranda no Programa de Educação; Desenvolvo pesquisas na área de Diversidade Sexual e Educação Sexual e palestrante e consultora desta mesma temática para jovens/adolescentes, pais e escolas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Para entender melhor...


Curso à distância da UNESCO


Sugiro que a todos e todas se inscrevam

Governo e Unesco lançam curso a distância para ampliar o acesso à formação em educação e sexualidade

A formação gratuita foi pensada para professores e profissionais da saúde que possuem jornada corrida e têm pouco tempo ao longo dia para ampliar seus conhecimentos

Conteúdo extra:
Lançado durante o IX Congresso Brasileiro de Prevenção às DST/Aids, que aconteceu em São Paulo (SP), o curso de educação a distância “Juventudes, sexualidades e prevenção das DST/Aids”, é voltado a profissionais da área de educação e da saúde. A iniciativa foi desenvolvida pelos ministérios da Saúde, da Educação, Serpro e UNESCO.

O objetivo da formação, gratuita e com duração total de 40 horas, é ampliar as competências desses profissionais para trabalhar com jovens e adolescentes na promoção da saúde e prevenção de doenças. “Com o curso, vamos poder ampliar ações que já vinham sendo desenvolvidas para esses profissionais”, destaca o diretor Eduardo Barbosa, do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.

De acordo com Eduardo, para que o Ministério da Saúde possa atingir a juventude e da epidemia de aids, especialmente com os jovens gays, é preciso combater temas ainda tabus no ambiente escolar e até mesmo nos serviços de saúde. “As pessoas precisam entender a diversidade e atuar nessa perspectiva no contexto da escola e no contexto da saúde. Nesse sentido, essa formação é fundamental”, disse o diretor.

Coordenador do Programa Saúde nas Escolas (PSE), do Ministério da Educação, José Luiz Mazzaro destaca que o curso foi pensado para pessoas que não possuem muito tempo ao longo do dia, mas que desejam ampliar os conhecimentos nos temas de saúde e prevenção. “Com apenas uma hora por dia é possível completar o curso em 40 dias”, observa. Ele também lembra que a linguagem simples, objetiva e sem rodeios do conteúdo. “Certamente irá facilitar para que profissionais da educação e saúde possam se apoderar de temas tão complexos como se propõe o curso”, diz.

Parceria - Com o objetivo de contribuir para a elaboração de estratégias voltadas para o enfrentamento das DST/AIDS., O Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (SESAP) do Rio Grade do Norte, através de Coordenação do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais e do Grupo de Trabalho Intersetorial Etadual do SPE (Saúde e Prevenção nas Escolas), também está oferecendo o Curso Juventudes, Sexualidade e Prevenção das DST/Aids, em modelo de Educação à Distância (EAD).
As inscrições para os interessados que atuem no Rio Grande do Norte estão disponíveis no portal do NESC. Até o momento, foram 883 inscritos apenas no estado. Com a grande procura a universidade resolveu abrir mais mil vagas.

Inscrição nacionais - Atualmente estão disponíveis, gratuitamente, mil vagas para o curso, e o Ministério da Educação já adiantou que pretende ampliar esse número. O curso tem duração de 40 horas sem tutoria. Já forma feitas mais de 600 inscritos. Um anova turma inicia-se a partir de 1 º de novembro. Os profissionais interessados em fazer a inscrição, devem acessar o site 



Com colaboração de Alex Pamplona (PA) e Rafael Stemberg, da Agência Jovem de Notícias
Atendimento à Imprensa
Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais
Ministério da Saúde
Tel: (61) 3315-7610/7616/7624/7651

sábado, 8 de setembro de 2012

Dinâmica: Sexualidade e Futuro


Tema:  Sexualidade, Sentimentos e Futuro.

Objetivo:  

Expressar sensações, desejos, emoções, sentimentos e opiniões sobre o próprio corpo e a       sexualidade.
Analisar as expectativas dos jovens com relação ao futuro, e as vivências da sexualidade.

Desenvolvimento:

·        Solicitar aos participantes que, de olhos fechados e embalados pela música, reflitam sobre suas sensações, desejos, emoções, sentimentos e opiniões sobre o próprio corpo, a sexualidade e a vida de hoje e no futuro.
·        Após um determinado tempo, distribuir cartelas com indicadores que nortearão a sistematização do que foi pensando e pedir para cada um preencher os quadros da cartela.

Sou (características marcantes)....
Meu corpo....
Estou...
Minha sexualidade...
Creio (Crenças e Valores)
Sonhos...
Quero ter...
Obstáculos....
Quero ser...
Para realizar-me preciso...

·                              Discutir o que escreveu, apresentando pontos marcantes das reflexões que fez.

Avaliação:
Avaliar a dinâmica e participação.






domingo, 2 de setembro de 2012

Curta - Eu não quero voltar sozinho


Confiram:




O curta-metragem "Eu Não Quero Voltar Sozinho", dirigido pelo cineasta paulistano Daniel Ribeiro, é um filme de rara delicadeza, extremamente sensível, realizado com competência técnica e cuidado artístico inquestionáveis.

Desde 2010, o filme vem sendo exibido e fartamente premiado em festivais e mostras de cinema no Brasil e no exterior. O curta conta a história de Léo, um menino de 15 anos, cego, que se apaixona por um colega de classe.

Como prova de sua qualidade e de seu cuidado ao lidar com dois temas ainda tabu - homossexualidade na adolescência e deficiência visual -, o filme foi incluído no programa Cine Educação, em parceria com a Mostra Latino-Americana de Cinema e Direitos Humanos.

O programa leva pacotes de curtas que englobem os direitos humanos, para que professores das redes de ensino do Brasil escolham os mais adequados - e estes serão exibidos em aula e debatidos com os alunos.

Livro: Homossexualidade e Educação Sexual: Construindo respeito a diversidade

Livro da professora Mary Neide Damico Figueiró que é organizadora e autora de alguns capítulos deste livro didático e de distribuição gratuita.

Vamos conhecer um pouco mais sobre diversidade sexual?

Acessem o link abaixo e automaticamente abrirá na página da autora onde poderão fazer um download em pdf do livro.

http://www.maryneidefigueiro.com.br/pdf/HOMOSSEXUALIDADE_E_EDUCACAO_SEXUAL.pdf

Boa leitura !!!




Indicação do Filme: Direito de Amar

Assistam ao trailer:



Este filme estreou em: 05 de Março de 2010

A história de George (Colin Firth), um professor de Inglês que, após a morte súbita de seu parceiro Jim (Matthew Goode), tenta manter sua rotina em Los Angeles, a amizade com Charley (Julianne Moore) e lidar com a curiosidade de alunos como Kenny (Nicholas Hoult).





- Indicado ao Oscar 2001: Melhor Ator (Colin Firth)

- Venceu Melhor Ator (Colin Firth), Queer Lion (Tom Ford) e foi indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2009

- Vencedor do Bafta de Melhor Ator (Firth) e indicado a Figurino (Arianne Phillips) em 2009

- Indicado ao Globo de Ouro 2010 de Melhor Ator (Firth), Trilha (Abel Korzeniowski) e Atriz Coadjuvante (Julianne Moore)

Reportagem sobre HIV - Folha de Londrina


Aids avança entre jovens e mulheres

Existe uma geração que viu amigos, ídolos e parentes sucumbirem rapidamente à fúria da aids. Outra, de jovens, não chegou a conhecer a face cruel da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, transmitida pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), pois já nasceu após a descoberta dos medicamentos antirretrovirais, poderosos aliados na luta contra o enfraquecimento do sistema imunológico. Com os efeitos devastadores da aids longe dos olhos e com os veículos de comunicação divulgando apenas campanhas pontuais, a população passou a subestimar a importância da prevenção. 

O resultado não podia ser outro: nos últimos anos, tem ocorrido uma mudança no perfil da população infectada pelo HIV ou convivendo com a aids. Jovens e mulheres estão cada vez mais suscetíveis. Em 1989, segundo dados do Ministério da Saúde, o País registrava seis casos de aids em homens para um caso em mulheres. Em 2010, esta proporção passou de 1,7 caso masculino para um feminino. 

Quanto à forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade, prevalece a sexual. Nas mulheres, 83,1% dos casos registrados em 2010 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 42,4% dos casos se deram por relações heterossexuais, 22% por relações homossexuais e 7,7% por bissexuais. O restante ocorreu por transmissão sanguínea e vertical (quando o filho é infectado pela mãe na gestação). 

Em se tratando de adolescentes, as mulheres infectadas, proporcionalmente, já são maioria. O problema, segundo especialistas, não está na falta de informação desta parcela da população, mas na falta de estímulo para aderir ao preservativo, único recurso seguro capaz de evitar a contaminação pelo vírus. 






Folha de Londrina - 02/09/12

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Dinâmica Sexualidade: Mudanças na Adolescência


Tema: Mudanças da adolescência

Objetivo:

Conscientizar-se acerca das mudanças que acontecem em seu corpo, em seu modo de ser,       pensar, agir.
Estimular a expressão de ideias e sentimentos em relação ao próprio desenvolvimento       pessoal.


Desenvolvimento:

·         Organizar grupos de 5 ou 6 participantes, todos do mesmo sexo.
·         Disponibilizando revistas, papéis coloridos, lápis de cor, pincéis atômicos e outros materiais para desenhos ou colagens que expressem o corpo antes da adolescência e como é atualmente.
·         Socializar os desenhos, fazendo uma apreciação das mudanças evidenciadas.



Avaliação:

Com o grupo refletir sobre o que foi importante no desenrolar da oficina e sobre o alcance dos objetivos.






quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Educação para o Divórcio - Martha Medeiros



Estou lendo "O Quebra-Cabeça da Sexualidade", do professor espanhol José Antonio Marina. No livro, o autor diz que considera preocupante que os jovens estejam recebendo dos pais a experiência do fracasso amoroso. Ao ver a quantidade de casais que se separam, a garotada vai perdendo a expectativa de ter, no futuro, uma relação saudável e sem conflito. Desencantam-se.

Creio que esteja acontecendo mesmo. Hoje o casamento já não é a ambição número 1 de muitos adolescentes, e um pouco disso se deve à descrença de que o matrimônio seja uma via para a felicidade. Se fosse, por que tanta gente se separaria?

O casamento tem sofrido tanta propaganda negativa que é preciso uma reação da sociedade: está na hora de passarmos a ideia, para nossos filhos, de que uma relação não traz apenas privações, tédio e brigas, mas traz também muita realização, estabilidade, parceria, intimidade, gratificações. Casar é muito bom. Como fazê-los acreditar nisso, se as estatísticas apontam um crescimento incessante no número de divórcios?

Um profissional do assunto deu uma entrevista para Zero Hora alguns dias atrás (o nome dele, mil desculpas, não recordo) e disse que está na hora de educarmos os filhos desde cedo para que a idéia de separação seja acatada como algo que faz parte do casamento. Ou seja, quando os pirralhinhos perguntarem: “Mamãe, você ficará casada com o papai para sempre?”, a resposta pode ser: "Enquanto a gente se amar, continuaremos juntos - senão vamos virar amigos, o que também é muito bom".

Isso pode parecer chocante para quem jurou na frente do padre que iria ficar casado até o fim dos dias, mas há que se rever certas fórmulas - a começar por esse juramento que mais parece uma punição do que um ideal romântico.

Está na hora de um pouco de realismo: hoje vivemos bem mais do que antigamente, com mais saúde, mais informação e mais oportunidades. Deve ser bastante confortável e satisfatório ficar casado com a mesma pessoa por 40 ou 50 anos, mas se a relação durar apenas 10 ou 15, é bom que a gurizada saiba: não é um fiasco. É normal.

A normalidade das coisas se adapta aos costumes. Vagarosamente, mas se adapta. Se continuarmos insistindo na idéia de que o verdadeiro amor não acaba, as crianças vão achar que o mundo adulto é habitado por incompetentes que não sabem procurar sua alma gêmea e que sofrem em demasia. Vão querer isso para elas? Fora de cogitação.

Pra evitar essa fuga em massa do casamento, a saída é, como sempre, a honestidade. Seguir educando para o "eterno" é uma incongruência. Ninguém fica no mesmo emprego pra sempre, ninguém mora na mesma rua pra sempre, ninguém pode prometer uma estabilidade vitalícia em relação a nada, e se a maioria das mudanças é considerada uma evolução, um aperfeiçoamento, uma busca por novos horizontes, por que o casamento não pode ser visto dessa mesma forma descomplicada e sem stress?

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Do primeiro contraceptivo à pílula anticoncepcional


A anticoncepção tem uma história milenar. Hipócrates (460-377 a.C.(1)) já sabia que a semente da cenoura selvagem era capaz de prevenir a gravidez. No mesmo período, Aristóteles mencionou a utilização da Mentha Pulegium como anticoncepcional, no ano 421 A.C. O uso de anticoncepcionais feitos de plantas naturais parece ter sido tão difundido na região do Mediterrâneo, que no século II A.C., Políbio escreveu que as "famílias gregas estavam limitando-se a ter apenas um ou dois filhos." 

Os antigos egípcios também utilizavam tampões vaginais ou tampas feitas de excremento de crocodilo, linho e folhas comprimidas. 

A anticoncepção masculina também era praticada na antiguidade. No século I A.C. Dioscórides afirmou que tomar extratos de uma planta considerada variação da madressilva (Lonicera periclymenum) durante 36 dias, podia causar a esterilidade masculina. 

Assim que foi estabelecida a relação do sêmen com a gravidez. O método anticoncepcional masculino mais conhecido era o coito interrompido, método citado na Gênesis relacionando Onân, que provocou a ira de Deus ao derramar suas sementes no chão. 

O primeiro preservativo 

Acredita-se que o preservativo remonte aos tempos da Roma antiga, quando eram utilizadas bexigas de animais para proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis. 

Os envoltórios ou preservativos de linho foram descritos em 1564 pelo anatomista italiano Falópio. No século XVIII, pedaços das vísceras de animais eram utilizadas para produzir os chamados "preservativos de pele". 

A borracha vulcanizada foi inventada em 1844, impulsionando a fabricação de preservativos mais aceitáveis e baratos que os preservativos de crepe de borracha. O desenvolvimento do poliuretano facilitou o lançamento do primeiro preservativo feminino em 1992. 
O diafragma 

A ideia do diafragma moderno surgiu com um alemão, Friedrich Adolf Wilde, que sugeriu que fosse feita impressão em cera da cérvice de cada mulher. A partir desse molde seria confeccionada barreira anticoncepcional de borracha. Somente em 1870, o Dr. Mesinga desenvolveu o diafragma de borracha fina com um aro circular endurecido para cobrir a saída da vagina. 

Possivelmente, o primeiro dispositivo intra-uterino (DIU) foi usado em pacientes por Hipócrates há mais de 2500 anos, que inseria objetos no útero com a ajuda de tubo de chumbo. Entretanto, o primeiro DIU clinicamente aceito, a Alça de Lippes, só foi amplamente adotado em 1962. 

Atualmente, existem dispositivos de cobre em diferentes formatos, entre os quais o mais popular é o em forma de "T". 

O nascimento da pílula 

Em 1921, Haberlandt provocou a infertilidade temporária em coelhas nas quais havia implantado ovários retirados de outras coelhas. Ele sugeriu que os extratos de ovários poderiam ser anticoncepcionais eficientes. 

A noretisterona, um hormônio sintético semelhante à progesterona (daí ser chamado de progestógeno) foi sintetizada em 1950 por Djerassi, a partir da diosgenina, planta derivada da batata-doce mexicana com propriedades esteroidais. 

Outro investigador, Colton, produziu outro progestógeno, o noretinodrel, que foi combinado a estrogênio sintético, o mestranol na composição da primeira pílula anticoncepcional combinada (contraceptivo oral combinado - COC), em 1960.(3) Foi Gregory Pincus quem realizou a maioria dos estudos com os primeiros COCs, tornando-se o médico conhecido como "o pai da pílula". A primeira pílula que continha somente o progestógeno (depois chamada de Minipílula) foi lançada apenas oito anos mais tarde. 

O implante 

A inovação contraceptiva seguinte foi pequeno implante que continha o hormônio levonorgestrel. Esse implante deve ser inserido sob a pele da face interna do antebraço, tendo sido projetado para ser eficaz por cinco anos. Entretanto, sua inserção e extração requerem pessoal médico treinado, o que limita seu uso. O hormônio é liberado na musculatura e então passa à corrente sanguínea, podendo circular por todo o organismo e provocar alguns efeitos adversos. 
O endoceptivo 

O endoceptivo (contraceptivo endógeno - sistema de liberação intra-uterino) desenvolvido e patenteado pelo grupo Schering, inaugura uma fase inovadora na contracepção feminina. Consiste basicamente em um sistema que é inserido no útero da mulher e libera o hormônio levonorgestrel gradativamente em doses idealmente mais baixas, por um período de cinco anos. O método é altamente eficaz e totalmente reversível, sendo especialmente indicado para mulheres com filhos que desejam adiar uma nova gravidez por um longo prazo. 

Fonte: www.bayerpharma.com.br

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Artigo: Sexualidade na Infância - Miriam Altman


Sexualidade na Infância

Hoje em dia falar sobre a sexualidade já não é algo tão novo e inusitado como foi na época de Freud mas penso que podemos observar e discutir o real sentido que ele deu ao que chamou de "sexual", além de desfazer alguns mau entendidos e confusões.

 comunidade científica da época assim como a seus leitores, em parte porque estava em desacordo com a moral vigente, pois trazia a noção de que as crianças não eram anjinhos assexuados, mas seres humanos que já nasciam com uma expressão de necessidades e desejos operantes desde o início da vida.
Depois com o desenvolvimento da teoria e sobretudo observando seus pacientes, Freud concluiu que a maior parte dos seus sintomas estavam relacionados ás fantasias e desejos da infância que haviam sido reprimidos, portanto já estava aí a noção de que muitas coisas aconteciam no decorrer da infância; tais como uma atividade psíquica intensa aonde se apresentavam desejos, fantasias e sensações, vividas primeiramente na relação da criança com seus genitores.
Uma das idéias fundamentais quando falamos de sexualidade é que não estamos nos referindo a genitalidade, no sentido do contato sexual adulto. Tendemos a restringir o termo a algo mais conhecido, mas o que a psicanálise introduz é uma nova compreensão do que se entende por sexual.
O termo 'sexual' para nós esta ligado a uma expressão de energia vital - a qual Freud chamou de libido- ligada a vida, ao prazer/ desprazer, ás necessidades, aos vínculos, ao desejo e á própria origem da formação do psiquismo, aspectos que vamos elucidar a seguir.
É muito importante podermos diferenciar instinto do que Freud denominou de pulsão. O instinto refere-se a um esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia e que se desenrola segundo uma seqüência temporal pouco suscetível de alterações e que parece corresponder a uma finalidade (mecanismos inatos de desencadeamento, estímulos-sinais específicos, etc). 
A pulsão nos remete a idéia de impulso, ação, que nos leva em direção a algo através das infinitas possibilidades de se representar o desejo.
Para ilustrar o que estamos querendo dizer, vamos tomar como exemplo a primeira atividade da criança com a alimentação e sua relação com a mãe. O bebe sente fome que se expressa como dor e desconforto e precisa que a mãe perceba seu estado e traga o alimento. Ao ser alimentado e nutrido satisfaz a fome mas ao mesmo tempo vive uma experiência de contato físico e emocional com a mãe, sentindo-se aconchegado, através do calor, do cheiro e das várias impressões e sensações que estão simultaneamente ocorrendo.
Assim, essa experiência de satisfação, embora apoiada inicialmente nas necessidades biológicas, ultrapassa-a pois vai além da vivencia do bebê de apenas saciar a sua fome e se estende às qualidades psíquicas prazerosas que vivencia no contato com a mãe.
sor do funcionamento do aparelho psíquico. O que podemos ter acesso, são as representações mentais através das transformações do que é sentido em nível somático em algo de natureza psíquica.
Desta forma a mãe ou o outro que a representa, nos cuidados com a criança, que pode ir dando o sentido psíquico a essas vivencias e auxiliando-a na formação e construção do seu mundo mental.
Assim o bebe desfruta de um grande prazer ao ser alimentado. O fato é que essa primeira experiência de gratificação começa a ser registrada em sua memória e deixa sua marca.
Quando o bebe sente fome novamente e ao chorar e espernear não obtém de imediato a presença da mãe e o alimento, recorre a experiência interna que foi registrada através da alucinação, ou seja, imagina que chupando o próprio polegar pode saciar-se. Acontece que aos poucos experimenta de novo fome e desconforto pois essa atividade de fato não o alimenta.
Freud chamou essa atividade de desejo e alucinação que tem sua origem nesse período muito precoce da formação do psiquismo e que no decorrer da vida vai ser muitas vezes utilizado tanto na infância quanto na vida adulta.
Nesse período surge também a possibilidade da criança alcançar prazer sem a presença do outro e Freud deu o nome a esta atividade de auto-erotismo, que se caracteriza pelo prazer no próprio corpo, ligado a uma zona erógena específica, como a boca, posteriormente o anus e partes do corpo. Só depois é que a libido vai se ligar a um objeto externo inteiro e não mais a partes no corpo.
Importante notar que esses fenômenos vão ocorrendo simultaneamente e com o tempo, por isto falamos de um desenvolvimento. Assim, ao falarmos em sexualidade estamos nos referindo às fantasias ligadas às vivencias corporais e às zonas erógenas.
Nesse sentido pode-se observar o quanto a região oral destaca-se inicialmente como um local onde se estabelecem trocas significativas. Além de mamar, a criança apreende pela boca a conhecer os objetos sugando, mordendo, mastigando ou seja experimentando-os das mais diversas formas e assim vai tendo impressões e representações de si, das pessoas e do ambiente.
As vivencias relacionadas com a alimentação, o desmame, o uso da chupeta, as mordidas, o chupar o dedo ou mesmo as fantasias ligadas ao devorar, incorporar, se apropriar, etc, só são possíveis na relação com o outro. A influencia da dinâmica que se estabelece nesta interação é importante no desenvolvimento psíquico e se constituem das mais variadas formas no mundo mental.
Estas experiências emocionais são muito complexas e envolvem afetos ligados a idéias inconscientes que estão determinando o comportamento sem nos darmos conta. Como exemplo, a criança não comer para agredir os pais, morder o outro para se apropriar do que deseja dele, etc.
Na seqüência, podemos destacar a fase anal, através dos vários sentidos que as fezes, a urina, o desfraldar podem ter para as criança na interação com a sua família e o ambiente.
Dessa forma, os produtos corporais, podem representar para a criança, autonomia, independência, presentes e oferendas de coisas boas para os pais assim como ataque agressivos como queimar, sujar, envenenar, controlar e reter, descarregar e expulsar, etc.
Como exemplo citaremos o comportamento da criança que não suporta lidar com sujeira ao mesmo tempo que quer ter o controle das situações. Muitos destes comportamentos são a expressão de fantasias que lhe causam angústia das quais não se dá conta.
Na continuidade do desenvolvimento emocional cabe ressaltar as vivencias edípicas relacionadas ao sentimentos da criança de identificação e ao mesmo tempo de rivalização com os pais, principalmente os do mesmo sexo, não tolerando sentirem-se excluídos e não fazendo parte da intimidade deles e tendo que renunciar á concretização dos seus desejos.
Como exemplo podemos citar a freqüência com que as crianças insistem em dormir entre os pais, o ciúme intenso que expressam ao ver os pais juntos, o desejo de casar e de possuir para si o genitor do sexo oposto, etc.
Assim, ao descrevermos o desenvolvimento da sexualidade infantil, esperamos estar contribuindo para uma melhor compreensão dos educadores frente a estas vivencias tão recorrentes na sua prática cotidiana.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Reportagem - Revista Nova Escola


O Despertar da Sexualidade - Revista Nova Escola -


Desde o nascimento, a criança explora o prazer, os contatos afetivos e as relações de gênero. Saiba como responder às dúvidas infantis sobre o tema



"A gente tá de mãos dadas, passeando com o cachorro. Eu e o Luís." Ana Beatriz, 4 anos
Apreciar a textura de um sorvete, relaxar numa massagem, desfrutar o beijo da pessoa amada: tudo o que se relaciona ao prazer com o corpo está ligado à sexualidade. Embora pelo senso comum ela se confunda com o erotismo, a genitalidade e as relações sexuais, o fato é que esse campo do desenvolvimento humano pode ser entendido num sentido mais amplo e deve incluir a conscientização sobre o próprio corpo e a forma de se relacionar amorosamente.

Ainda que esse processo se estenda pelo resto da vida, ele se inicia na infância, desde o nascimento. "As crianças sentem prazer em explorar o corpo, em serem tocadas, acariciadas. Elas experimentam a si próprias e ao entorno, vivenciam limites e possibilidades", diz Cláudia Ribeiro, professora da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais.

De modo geral, é possível falar em três "frentes de descobrimento", que ocorrem paralelamente: a da dinâmica das relações afetivas, a do prazer com o corpo e a da identificação com o gênero. Tudo se inicia com a primeira percepção de prazer: o ato de mamar, uma ação que dá alívio ao desconforto da fome e que intensifica o vínculo afetivo, baseado na sensação de cuidado e acolhimento. "A ligação entre mãe e bebê é um embrião relacional que, mais adiante, será desafiado com a percepção de que a figura materna desvia sua atenção para outras pessoas, como o pai ou um irmão", explica Ada Morgenstern, psicanalista e professora do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.

Ao constatar que não é o centro das atenções, a criança sente certo abalo em seu "reinado", mas também percebe que a sensação boa de se relacionar pode ser estendida para além da figura da mãe. Inicialmente, ela se volta para outros membros do contexto familiar e, em seguida, depois do primeiro ano de vida, para fora dele. "Essas relações dão uma referência à criança sobre sua própria identidade. Interagindo com amigos, ela percebe a si mesma", diz Maria Helena Vilela, educadora sexual e diretora do Instituto Kaplan, em São Paulo.
Para compreender as relações entre casais, os pequenos criam representações com faz de conta e imitação.
O prazer do vínculo afetivo e das interações sociais se dá em paralelo com a percepção das relações amorosas entre casais. Para compreender essa realidade do mundo, a criança se utiliza de recursos próprios da fase que vive: o faz de conta e a imitação. Falas como a de Ana Beatriz (primeira imagem), que representa no desenho um passeio de mãos dadas com um colega - ou seja, uma situação típica de namoro -, demonstram o interesse sobre os relacionamentos.

Experiências e perguntas nas investigações sobre o prazer

A descoberta de que o corpo é uma importante fonte de prazer costuma vir acompanhada de perguntas sobre a sexualidade. É comum, por exemplo, uma criança pequena perguntar a uma visita se ela tem "pinto" ou "perereca" - causando certo constrangimento aos adultos. A questão explicita que ela começa a identificar as diferenças entre o corpo do homem e o da mulher e toma consciência das características do próprio físico. Nesse contexto, além da investigação visual, experimenta as sensações causadas pelo toque em diferentes partes do corpo (e no de outras crianças), sejam elas do mesmo sexo ou do sexo oposto. "Também fazem parte dessa vivência beijos e abraços entremeados por risos e cócegas", completa Cláudia.
"O neném primeiro fica na barriga. Depois, sai pela perereca."
Maria Luísa, 5 anos
Um dos pioneiros a estudar a exploração do prazer corporal foi o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), criador da psicanálise, que chocou a sociedade de sua época ao falar da sexualidade infantil - rompendo com a imagem da criança inocente, assexuada. Ele mapeou o desenvolvimento nesse campo em diferentes fases, cada uma valorizando o prazer em uma região do corpo. A primeira delas é a fase oral, que se estende até os 2 anos e em que os pequenos concentram na boca a maior parte das sensações de prazer - mamar no seio ou na mamadeira, chupar chupeta etc. Em seguida, passa-se à fase anal (em torno dos 3 e 4 anos), quando a criança ganha controle sobre os esfíncteres e passa pelo processo de largar as fraldas. Nesse momento, sente-se bem em eliminar ou reter urina e fezes, fazendo do ânus uma região de prazer.

Depois os pequenos descobrem o prazer genital e investem nessa exploração do próprio órgão sexual. Esse período ocorre entre os 3 e os 5 anos e, depois dele, instaura-se um período de latência, em que as questões da sexualidade ficam secundárias nas inquietações infantis (até a puberdade). Embora não tenha sido superada, essa divisão em etapas é hoje relativizada pelos especialistas. "A separação por fases tem a intenção de facilitar a compreensão sobre o amadurecimento da sexualidade e não pode ser entendida como algo estanque, que ocorre linearmente", explica Ada.
As dúvidas sobre a concepção são frequentes e devem ser respondidas com precisão.
É também durante a Educação Infantil que os pequenos começam a se colocar questões sobre a origem dos bebês. Os caminhos para resolver esse "mistério" costumam ser perguntar a um adulto ou elaborar teorias próprias com as informações que coletam das mais variadas fontes - conversas, filmes e livros, por exemplo. A fala de Luís Antônio, que parece se contentar com a ideia de que os bebês vêm do hospital, é um exemplo disso (veja o diálogo abaixo).

"A minha mãe tá perguntando para o meu pai se ela pode me dar um irmãozinho. Se ele deixar, vai nascer." Luís Antônio, 4 anos
"E de onde ele vai vir?" repórter 
"Do (hospital) Samaritano." Luís Antônio


"Nessa hora, o importante é responder exatamente o que a criança está perguntando, sem antecipar dúvidas", diz Marcos Ribeiro, sexólogo e coordenador geral da ONG Centro de Educação Sexual, no Rio de Janeiro. Se uma criança indaga como os bebês nascem, dizer que eles saem do hospital, embora não seja errado, não resolve a dúvida, pois poderia indicar que eles são comprados ou pegos no local. Uma possibilidade é dizer que eles vêm da barriga da mãe, sem dizer como ele entra ou sai dela (a menos que o pequeno pergunte). "Assim, é possível garantir que eles tenham acesso à informação à medida que as questões façam sentido para eles ou os inquietem", diz Ribeiro.

No espaço escolar, fale sobre o que é público e o que é privado
"Aqui é um homem porque ele é forte. Olha o muque dele."
Felipe, 4 anos
Além de explicações sobre anatomia e concepção, os pequenos vão aos poucos construindo ideias sobre cada gênero. Por volta dos 2 anos, a criança percebe se é do sexo feminino ou masculino e, no contato com os adultos ao seu redor e pela mídia, aprende o que é ser menino ou menina em sua sociedade - e, claro, tem contato com os rótulos associados a eles. Os pequenos logo percebem que se espera que o homem seja forte(veja o desenho e a fala de Felipe ao lado) e que a mulher seja frágil e delicada (veja a fala de Sofia abaixo).

"O meu pai às vezes me chama de Sofião...Eu não gosto dele quando faz isso comigo." Sofia, 5 anos

"É preciso ter atenção à rigidez dessa diferenciação e à criação de estereótipos que não contemplem a diversidade entre as pessoas", alerta Ribeiro. Nesse aspecto, a escola tem um papel importante. A maneira como a instituição lida com as diferenças físicas e a igualdade de oportunidades são maneiras de ensinar o respeito à diversidade e de não reafirmar clichês questionáveis - como o fato de a menina ser passiva, e o menino, destemido ou mesmo autoritário.

Da mesma forma, a equipe docente tem responsabilidade em explicitar as regras da cultura em que os pequenos estão inseridos. É preciso ter atenção, sobretudo, à distinção do que cabe no espaço público e no privado. A masturbação, por exemplo, requer um espaço privado para ser realizada, assim como urinar e defecar. "O professor deve intervir ao ver um menino manipulando a genitália em local público, mas o foco não deve ser a ação em si. A questão é o local apropriado", diz Maria Helena. "O adulto não deve repreender a criança apenas porque ele mesmo está incomodado. Se ela estiver se tocando em local privado, como a cabine de um banheiro, não é adequado pedir para parar."
Construída no início da vida, a identificação com o gênero se vincula à cultura em que cada criança se insere.
O desafio para o professor é enorme: ao mesmo tempo em que deve preservar a intimidade das crianças e não culpabilizá-las por manifestações de sexualidade, ele é responsável por um processo educativo que aborde valores, diferenças individuais e grupais, de costumes e de crenças. Isso é fundamental tan-to na infância como na adolescência, quando a questão ressurge a todo vapor. O mesmo te-ma voltará a ser abordado na série Desenvolvimento Infantil e Juvenil - que, a partir do mês que vem, direciona o olhar para o comportamento dos jovens.

* Os desenhos e os diálogos publicados nesta reportagem são de crianças de 3 a 5 anos da Creche Central da Universidade de São Paulo (USP)
Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA 
Freud e a Educação - O Mestre do Impossível, Maria Cristina Kupfer, 102 págs., Ed. Scipione, tel. 0800-161-700, 30 reais
Sexualidades e Infância - A Sexualidade Como um Tema Transversal, Cláudia Ribeiro e Ana Maria Faccioli de Carvalho, 144 págs., Ed. Unicamp, tel. (19) 3521-7030, 31 reais 

Sexualidade na Infância e Adolescência Profa. Dra Cláudia Bonfim.wmv

Sexualidade na Infância e Adolescência Profa. Dra Cláudia Bonfim.wmv

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Alguns dos direitos civis negados aos homossexuais


  • Não podem aceder ao casamento civil.
  • Não adotam sobrenome do parceiro.
  • Não podem somar renda para aprovar financiamentos.
  • Não somam renda para alugar imóvel.
  • Não inscrevem parceiro como dependente de servidor público (admissível em diversos níveis da Administração).
  • Não podem incluir parceiros como dependentes no plano de saúde.
  • Não participam de programas do Estado vinculados à família.
  • Não inscrevem parceiros como dependentes da previdência (atualmente aceito pelo INSS).
  • Não podem acompanhar o parceiro servidor público transferido (admissível em diversos níveis da Administração).
  • Não têm a impenhorabilidade do imóvel em que o casal reside.
  • Não têm garantia de pensão alimentícia em caso de separação (posição controversa no Judiciário, havendo diversos casos de concessão).
  • Não têm garantia à metade dos bens em caso de separação (quanto aos bens adquiridos onerosamente, têm direitos pois constituíam sociedade de fato. Contudo, não há que se falar em meação de bens).
  • Não podem assumir a guarda do filho do cônjuge.
  • Não adotam filhos em conjunto.
  • Não podem adotar o filho do parceiro.
  • Não têm licença-maternidade para nascimento de filho da parceira.
  • Não têm licença maternidade/ paternidade se o parceiro adota filho.
  • Não recebem abono-família.
  • Não têm licença-luto, para faltar ao trabalho na morte do parceiro.
  • Não recebem auxílio-funeral.
  • Não podem ser inventariantes do parceiro falecido.
  • Não têm direito à herança (precisam de previsão testamentária, mas quanto aos bens adquiridos onerosamente durante a convivência, há sociedade de fato, recebendo o sobrevivente a sua parte).
  • Não têm garantida a permanência no lar quando o parceiro morre.
  • Não têm usufruto dos bens do parceiro (precisam de previsão testamentária).
  • Não podem alegar dano moral se o parceiro for vítima de um crime.
  • Não têm direito à visita íntima na prisão (visitas autorizadas por grande parte do Judiciário).
  • Não acompanham a parceira no parto.
  • Não podem autorizar cirurgia de risco.
  • Não podem ser curadores do parceiro declarado judicialmente incapaz (grande parte do Judicíario admite o exercício da curatela pelo parceiro, mas não é possível que este promova a interdição).
  • Não podem declarar parceiro como dependente do Imposto de Renda (IR).
  • Não fazem declaração conjunta do IR.
  • Não abatem do IR gastos médicos e educacionais do parceiro.
  • Não podem deduzir no IR o imposto pago em nome do parceiro.
  • Não dividem no IR os rendimentos recebidos em comum pelos parceiros.
  • Não são reconhecidos como entidade familiar, mas sim como sócios.
  • Não têm suas ações legais julgadas pelas varas de família. (questão em fase de mudança jurisprudencial)

domingo, 5 de agosto de 2012

Homofobia e educação: quando a omissão também é signo de violência


Nilson Fernandes Dinis
Professor adjunto no Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Brasil. Pesquisador bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). É também coordenador do grupo de pesquisa Diversidade em Educação. E-mail:ndinis@ufscar.br




Em "Homofobia na perspectiva dos Direitos Humanos e no contexto dos estudos sobre preconceito e discriminação", o juiz federal brasileiro Roger Raupp Rios traz uma interessante problematização em relação ao termo homofobia. De uma forma geral, ela é definida como o preconceito e a discriminação em relação às pessoas homossexuais, mas Rios (2009), ao se debruçar sobre o conceito, nos lembra que sua apropriação no discurso acadêmico se deu a partir de uma condensação da palavra homosexualphobia, usada nas pesquisas do psicólogo americano George Weinberg no início dos anos setenta do século passado. Todavia, Rios observa também que foi a proposição do termo a partir da experiência masculina que originou "a proliferação de outros termos objetivando designar formas correlatas e específicas de discriminação, como putafobia (prostitutas), transfobia (travestis e transexuais), lesbofobia (lésbicas) e bissexualfobia (bissexuais)" (RIOS, 2009, p. 60).

A generalização do termo homofobia, um termo masculinizante que passou também a se referir as outras formas de discriminação contra a diversidade sexual de mulheres lésbicas, mulheres e homens bissexuais, travestis e transexuais, é interessante, pois nos revela mais uma das limitações de nossa linguagem e dos preconceitos implícitos nela. Como já tivemos oportunidade de ressaltar em texto anterior (DINIS, 2008), a linguagem é também um fator de exclusão e de expressão de preconceitos, principalmente nas línguas latinas, nas quais a conformidade com as regras tradicionais e pretensamente neutras da linguagem nos obriga a utilizar termos masculinos como signos genéricos referentes a mulheres e homens. Autoras que trabalham como uma perspectiva feminista, como a brasileira Guacira Lopes Louro (1997) e a espanhola Monserrat Moreno (1999), têm buscado alternativas a partir do uso concomitante da forma feminina e da forma masculina. Mesmo a sigla GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais), utilizada pelos movimentos em prol da diversidade sexual, privilegiou durante muitos anos a precedência do termo masculino "gays" (que no Brasil, ao contrário do seu uso na língua inglesa, tem sido utilizado geralmente para referir a homens homossexuais), sendo somente nos últimos anos, que a partir da crítica feminista, foi adotada a forma LGBTT. É evidente que não há solução definitiva para o problema, pois poderíamos dizer que as formas mais desafiadoras da sexualidade normativa, como as experiências afetivo-sexuais de pessoas bissexuais, travestis e transexuais continuam no fim da sigla. Mas este é um eterno embate de resistência aos limites da linguagem, pois aprendemos, com Roland Barthes (1989), que infelizmente a função da linguagem não é comunicar, mas nos sujeitar, nos obrigar a dizer. Nesse sentido, a linguagem seria fascista, pois mais do que nos impedir de falar, nos obriga a dizer utilizando suas formas convencionalizadas.

Os termos homossexualidade e homossexual também poderiam ser questionados, pois, de acordo com os estudos sobre a sexualidade conduzidos pelo filósofo francês Michel Foucault (1988), somente no fim do século XIX é que os termos apareceram no discurso médico como formas patologizantes de se referir a experiências afetivo-sexuais entre pessoas do mesmo sexo. O psicanalista brasileiro Jurandir Freire Costa propõe a substituição desses termos patologizantes pelo termo "homoerotismo", pois, segundo o autor, resistir a tais terminologias implica em resistir também à carga negativa com que a ciência e a cultura vêm sobrecarregando tais termos (COSTA, 1992).

Questionar os limites e os preconceitos no uso da linguagem constitui também um exercício de resistência a processos de discriminação e exclusão e devem ser encorajados no espaço da educação. Um conceito é sempre uma tentativa de simplificar por meio de uma palavra, criada em um determinado contexto histórico-cultural, uma complexidade de experiências, no caso da sexualidade, uma complexidade de experiências com nossos corpos, com nossos prazeres e com outras pessoas. No entanto, questionar determinados conceitos nem sempre implica em desfazer-se completamente deles, nem negar sua utilidade e sua necessidade em determinados contextos específicos, o que inviabilizaria a possibilidade de qualquer pesquisa na área de Ciências Humanas, já que a maioria dos conceitos com as quais trabalhamos, sendo um deles o próprio conceito de sujeito, são problemáticos. Reconhecer conceitos como problemáticos implica em reconhecer a linguagem como construção histórico-cultural, negando sua pretensa neutralidade e universalidade, mas não implica necessariamente inviabilizar todas as pesquisas que trabalham com categorias que possam ser questionadas, embora recentemente essa tenha sido uma atitude ingênua bastante presente na crítica acadêmica na área das Ciências Humanas. Homossexualidade e homofobia têm sido termos largamente utilizados pela mídia, pelos movimentos sociais e pelo discurso acadêmico, assim, mesmo com todas as ressalvas que já apontamos anteriormente, optamos por utilizá-los neste artigo.

A homofobia se tornou, no mundo contemporâneo, um dos últimos preconceitos ainda tolerados. Qualquer brasileiro (a) pode se lembrar facilmente de vários nomes da política nacional ou dos movimentos de defesa dos Direitos Humanos que defendem publicamente o direito das minorias étnico-raciais, das mulheres, das (dos) presidiárias (os), dos (as) sem-terra, das pessoas com necessidades educativas especiais, mas que se escondem quando o assunto em pauta é o combate à violência ou a luta pelos direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Na atualidade poucas pessoas ousariam expressar publicamente formas de sexismo contra as mulheres, ou formas de racismo que incentivem explicitamente o preconceito contra a população negra, contra a população judaica, contra a população indígena, ou outras minorias étnico-raciais. No entanto, dizer publicamente não se simpatizar ou mesmo odiar pessoas homossexuais ainda é algo não só tolerado, como constitui também em uma forma bastante comum de afirmação e de constituição da heterossexualidade masculina. O pesquisador americano Donald Sabo analisa, por exemplo, como a homofobia é um dos mecanismos utilizados nas práticas esportivas na escola para ensinar jovens atletas a desenvolver e provar sua "masculinidade":
Lembro-me do seguinte episódio dos meus dias como jogador de futebol na escola de segundo grau: um garoto do segundo ano chamado Brian, um rapaz grande, mas gorducho, carecia de força física e do "instinto assassino" que, segundo nos ensinavam, era preciso para ser um bom jogador. Num dia quente e úmido, o treinador Shumock decidiu dar uma lição naquele rapaz. Chamou todo o grupo de defesa e obrigou o Brian a bloquear cada um de nós, um depois do outro. O tempo inteiro, o treinador o atormentava: "Quantas irmãs que você tem em casa, Brian? São seis ou sete? Quanto tempo demorou sua mãe para descobrir que você era menino, Brian? Quando foi que você deixou de usar vestidos como suas irmãs, Brian? Talvez o Brian gostaria de fazer uns biscoitos para nós amanhã, meninos. Você é mole, Brian, talvez mole demais para este time. O que vocês acham, meninos, O Brian é mole demais para nosso time?". A provação continuou durante uns dez minutos, até o Brian desmoronar-se, exaurido e chorando. O treinador tinha vencido. Tive pena de Brian, talvez ele não fosse uma "fera" de bom jogador, mas estava lá, suando e se maltratando fisicamente como todos nós. No entanto, eu percebia que "ser mole" tinha de ser evitado a qualquer custo. Em última instância, me aliava com o treinador e o resto do time, me identificava "para cima" com a hierarquia masculina, em solidariedade com o time, e não "para baixo" com a vulnerabilidade e o sofrimento de Brian. Hoje eu sei que as mensagens homofóbicas do treinador ficariam comigo muito tempo, muito tempo depois das lágrimas de Brian secarem no sol daquele dia quente. (SABO, 2002, p. 38-39).
Na escola a homofobia se expressa por meio de agressões verbais e/ou físicas a que estão sujeitos estudantes que resistem a se adequar à heteronormatividade, conceito criado pelo pesquisador americano Michael Warner (1993) para descrever a norma que toma a sexualidade heterossexual como norma universal e os discursos que descrevem a situação homossexual como desviante. No contexto educacional, o termo bullying tem sido utilizado para nomear a violência sofrida por alunos (as) no ambiente escolar, e o termo bullying homofóbico tem sido utilizado para nomear especificamente a violência sofrida por alunas (os) gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Um dos primeiros estudos sobre bullying foi desenvolvido no fim dos anos de 1970, pelo norueguês Dan Olweus, que define o termo como a exposição repetitiva de um (a) estudante a ações de agressão (físico e/ou verbal) por parte de uma ou mais pessoas com a intenção de infringir dano ou desconforto sobre a vítima (OLWEUS, 1993). Na escola o bullying homofóbico tem resultado na evasão escolar de estudantes que expressam identidades sexuais e de gênero diferentes da norma heterossexual, e mesmo nas tentativas de suicídio de adolescentes em conflito com sua identidade sexual e de gênero, devido aos preconceitos e a discriminação sofrida no espaço escolar. Uma das principais vítimas no processo de evasão escolar também são as adolescentes travestis e as (os) adolescentes transexuais que dificilmente conseguem terminar seus estudos, sendo forçadas (os) a abandonar a escola, já que diferentemente de adolescentes gays e lésbicas, têm mais dificuldade em esconder sua diferença, tornando-se as vítimas mais visíveis dessa violência escolar.

Mas a situação de estudantes gays e lésbicas que tentam esconder sua orientação sexual também não é mais fácil já que o silenciamento e o ocultamento de sua sexualidade é também uma forma de violência. Como lembra Guacira Louro:
Ao não falar a respeito deles e delas, talvez se pretenda 'eliminá-los`, ou, pelo menos, se pretenda evitar que os alunos e as alunas 'normais` os/as conheçam e possam desejá-los/as. Aqui, o silenciamento - a ausência da fala - aparece como uma espécie de garantia da 'norma`. (LOURO, 1997, p. 67-68).
Esse silenciamento, que se traduz também na omissão quando aparecem os casos de violência física ou verbal sofrida por estudantes que expressam sua diferença sexual e de gênero, é compartilhado pelas (os) professoras (es) que evitam discutir o tema da diversidade sexual e de gênero nas escolas. A pesquisadora canadense Deborah Britzman descreve muito bem as fantasias envolvidas no medo de professores (as) em abordar o tema da diversidade sexual no espaço escolar:
...existe o medo de que a mera menção da homossexualidade vá encorajar práticas homossexuais e vá fazer com que os/as jovens se juntem às comunidades gays e lésbicas. A ideia é que as informações e as pessoas que as transmitem agem com a finalidade de "recrutar" jovens inocentes. (...) Também faz parte desse complexo mito a ansiedade de que qualquer pessoa que ofereça representações gays e lésbicas em termos simpáticos será provavelmente acusada ou de ser gay ou de promover uma sexualidade fora da lei. Em ambos os casos, o conhecimento e as pessoas são considerados perigosos, predatórios e contagiosos. (BRITZMAN, 1996, p. 79-80).
Em "A atriz, o padre e a psicanalista - os amoladores de faca", o psicólogo brasileiro Luis Antonio Baptista (1999) utiliza o conceito de "amolador de faca" para denunciar a cumplicidade social com a violência expressa, às vezes, no discurso da mídia, no discurso religioso e no discurso de saberes com a Psicologia e a Psiquiatria, mas que podemos aplicar também ao discurso educacional:
O fio da faca que esquarteja, ou o tiro certeiro nos olhos, possui aliados, agentes sem rostos que preparam o solo para esses sinistros atos. Sem cara ou personalidade, podem ser encontrados em discursos, textos, falas, modos de viver, modos de pensar que circulam entre famílias, jornalistas, prefeitos, artistas, padres, psicanalistas etc.Destituídos de aparente crueldade, tais aliados amolam a faca e enfraquecem a vítima, reduzindo-a a pobre coitado, cúmplice do ato, carente de cuidado, fraco e estranho a nós, estranho a uma condição humana plenamente viva. (BAPTISTA, 1999, p. 46).
O texto, escrito nos anos de 1990, remetia à três situações reais envolvendo a declaração de uma atriz em um programa televisivo dominical, a presença de uma psicanalista em outro programa televisivo juvenil de auditório e o discurso de um padre católico. Apesar do autor não identificar as personagens, a personagem da atriz parece remeter a uma participação da atriz global Cássia Kiss em um programa televisivo dominical no qual a atriz teria expressado seu desejo em não ter um filho homossexual. Mais recentemente a cantora Cláudia Leite e a modelo Isabeli Fontana também teriam se envolvido em uma situação polêmica parecida ao dar declarações semelhantes para a mídia sobre o desejo de não ter um filho homossexual.
No programa dominical, uma artista famosa, apaixonada pela natureza e pela poesia, afirma que não admitiria ter um filho homossexual. Justificando não ter preconceitos, já que é atriz, afirma ser esse tipo de pessoa o produto de um relacionamento familiar que não funcionou bem. Alguma coisa anda mal e seu filho está fadado a ser infeliz. A atriz apaixonada pelos poetas e pela ecologia amolou sensivelmente uma faca. (BAPTISTA, 1999, p. 48).
Os discursos da Psicologia, da Psicanálise e da Psiquiatria também têm sido utilizados para justificar o preconceito e a discriminação em relação à diversidade sexual, embora a homossexualidade tenha sido retirada da lista de distúrbios mentais em 1973, pela American Psychiatric Association, e em 1985, pela Associação Médica Brasileira. O Conselho Federal de Psicologia também tem tido forte engajamento nos últimos anos nas políticas voltadas à luta pelos direitos das minorias sexuais e de gênero; estabelecendo, desde março de 1999, normas éticas para a atuação de psicólogas (os) em relação à questão da orientação sexual, "considerando que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio, nem perversão" e também que os "psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades" (Conselho Federal de Psicologia, 1999, s.p.). No entanto, há ainda profissionais da área da psicologia que às vezes oferecem em sites da internet ou na privacidade dos consultórios tratamento para a homossexualidade. Jurandir Freire Costa (1995) e Graciela Haydée (1999) analisam a difícil relação entre a teoria psicanalítica e o comportamento da homossexualidade, o que produziu ao mesmo tempo conceitos normatizantes sobre o tema e em outros momentos conceitos libertários, sendo os últimos apropriados por parte do próprio discurso utilizado pelos movimentos de afirmação das minorias sexuais e de gênero. A pesquisadora americana Judith Butler (2004) também aponta a presença do discurso psicanalítico em parte da argumentação contra a adoção de crianças por casais homossexuais, ou mesmo contra o PAC (Pacto de Solidariedade Civil), que constituiu uma alternativa de reconhecimento de direitos para casais homossexuais no território francês. O discurso da personagem psicanalista, tão bem descrito no texto de Luis Antonio Baptista, resume alguns dos principais argumentos utilizados por essa apropriação normativa dos conceitos da Psicologia:
Em um programa para jovens cujo tema é sexo, uma psicanalista é entrevistada por adolescentes. Uma garota pergunta-lhe sobre o homossexualismo. A psicanalista assinala que os adolescentes não precisam temer, porque tendo uma infância saudável, um bom relacionamento com o papai e com a mamãe, o Édipo será resolvido, nada acontecerá. A psicanalista afirma também que o homossexualismo não é uma doença, e sim um sintoma, uma parada no desenvolvimento psicossexual, uma tentativa inconsciente de resolvê-lo. Os adolescentes escutam, sérios, a especialista falar sobre os mistérios da alma. Após calorosos aplausos, os adolescentes paulistanos aprenderam que o homossexual é uma angustiada reedição de uma criança que precisa do amor do papai e da mamãe. (BAPTISTA, 1999, p. 47).
Outros (as) competentes amoladores de facas são as (os) representantes de alguns setores religiosos. Em "A igreja e questão homossexual no Brasil", o ativista do movimento LGBTT e também pesquisador Luiz Mott analisa historicamente a presença do discurso homofóbico nas religiões cristãs no Brasil, lembrando que muitos cristãos "pensam e agem em relação aos homossexuais, como se ainda vivêssemos sob o chicote e a fogueira da Santa Inquisição" (MOTT, 1999, p. 38). No Congresso Nacional Brasileiro, representantes da política ligados à igreja católica e às igrejas evangélicas têm se mobilizado contra a aprovação de direitos civis das minorias sexuais como a criminalização da homofobia, a união civil de casais homossexuais e o direito de adoção de crianças por parte das famílias homoparentais. Associações entre o comportamento homossexual, a promiscuidade e a causa de catástrofes naturais associadas a mudanças climáticas e o aparecimento de novas doenças também são comuns em programas televisivos comandados por religiosos durante as madrugadas. É neste sentido, que a fala do padre, descrita no texto de Luis Antonio Baptista, descreverá também a emergência da AIDS, que já foi chamada no passado de "câncer gay":
Já ouvi de um jovem essa sentença: "Deus sempre perdoa; os homens, algumas vezes; a natureza, nunca". No caso da AIDS, trata-se de uma decorrência da própria natureza que, profundamente atingida, reage normalmente, sem que Deus se veja na obrigação de alterar suas leis por um milagre. E esse castigo indireto de Deus visa ao bem do homem, à volta a uma vida saudável. Sem dúvida podemos dizer que tal castigo, no qual se manifesta a "ira de Deus" (foi o primeiro nome dado a AIDS), lembra Jesus empunhando o látego no templo que os mercadores profanavam. E poderemos acaso profanar impunemente o templo do nosso corpo, que deve ser a habitação do Espírito Santo? Deus perdoa sempre os que desejam perdão, mas castiga-os, se necessário, deixando agirem as próprias leis naturais. (BAPTISTA, 1999, p. 48).
A atriz, a psicanalista e o padre compartilham, segundo Baptista (1999, p. 49), "a presença camuflada do ato genocida. São genocidas, porque retiram da vida o sentido de experimentação e de criação coletiva. Retiram do ato de viver o caráter pleno de luta política e o da afirmação de modos singulares de existir". Embora não empunhem a arma, nem a faca que provoca diariamente o assassinato de pessoas que representam as minorias sexuais no Brasil, eles (as) são os (as) amoladores (as) de facas que colaboram indiretamente para tal genocídio, já que entender a homossexualidade como pecado, profanação do corpo e da sexualidade, como anormalidade e desvio de comportamento - discursos importados da religião, da mídia e das ciências psicológicas - são também as principais justificativas utilizadas por assassinos em série ou grupos de extermínio de travestis, transexuais, bissexuais, gays e lésbicas no Brasil.
É interessante que em nenhum momento do texto de Luis Antonio Baptista seja mencionada explicitamente a área da educação. No entanto, educadoras e educadores costumam ser também competentes amoladores de facas. Em uma pesquisa anterior que realizamos com estudantes de Pedagogia de uma universidade pública, pudemos observar como conceitos normatizantes importados do discurso religioso e do discurso da Psicologia são às vezes apropriados por futuros (as) professores (as) para justificar atitudes preconceituosas e discriminatórias em relação à diversidade sexual e de gênero (DINIS; CAVALCANTI, 2008). Isso constitui um fator preocupante já que a escola, junto com a família e a mídia, constitui um forte agente na construção de parte significativa dos conceitos e preconceitos das novas gerações. E parte desses conceitos e preconceitos remete justamente às novas identidades sexuais e de gênero e aos novos modelos familiares que habitam o mundo contemporâneo.
Guacira Louro nos lembra que:
A escola é, sem dúvida, um dos espaços mais difíceis para que alguém "assuma" sua condição de homossexual ou bissexual. Com a suposição de que só pode haver um tipo de desejo sexual e que esse tipo - inato a todos - deve ter como alvo um indivíduo do sexo oposto, a escola nega e ignora a homossexualidade (provavelmente nega porque ignora) e, desta forma, oferece poucas oportunidades para que adolescentes ou adultos assumam, sem culpa ou vergonha, seus desejos. O lugar do conhecimento mantém-se, com relação à sexualidade, o lugar do desconhecimento e da ignorância. (LOURO, 2000, p. 30).
Essa ignorância sobre o tema, assim como a presunção assumida por professoras (es) de que a escola só deva discutir assuntos universais, sendo somente a norma da heterossexualidade concebida como natural e universal, exclui a sexualidade de estudantes LGBTTs e faz com que a diversidade sexual e de gênero seja um tema excluído do currículo, mesmo das aulas de Educação Sexual. Porém, como observa Britzman (1996, p. 92), "em vez de ver a questão da homossexualidade como sendo de interesse apenas para aquelas pessoas que são homossexuais, devemos considerar a forma como os discursos dominantes da heterossexualidade produzem seu próprio conjunto de ignorâncias tanto sobre a homossexualidade quanto sobre a heterossexualidade". A dificuldade em falar sobre a diversidade sexual é também uma dificuldade de educadores e educadores em conhecer a própria sexualidade e suas múltiplas possibilidades de obter prazer. Questionar a sexualidade, seja ela hetero ou homossexual é entendê-la como uma construção em constante negociação com o outro e com o social e esse pode ser um passo fundamental para problematizar e pluralizar a sexualidade, compreendendo o processo que leva à formação das diversas identidades e desconstruir os pressupostos da heteronormatividade,
Outra justificativa bastante comum utilizada por educadoras e educadores para excluir o tema da diversidade sexual das discussões do currículo é a ideia de que as identidades sexuais pertencem ao domínio da vida privada. Para Britzman:
Este mito afirma, ao mesmo tempo, uma noção duvidosa de privacidade: que aquilo que a pessoa "faz" privadamente deve ter pouca consequência pública. [...] Além disso, a insistência de que a sexualidade deva ser confinada à esfera privada reduz a sexualidade às nossas específicas práticas sexuais individuais, impedindo que concebamos a sexualidade como sendo definida no espaço social mais amplo, através de categorias e fronteiras sociais. (BRITZMAN, 1996, p. 80).
Reduzir as identidades sexuais à vida privada também tem sido o argumento capcioso utilizado por escolas religiosas, mesmo em países progressistas em relação aos direitos das minorias sexuais, como o Canadá, para proibir educadores (as) de falarem sobre diversidade sexual e de gênero. Dessa forma, as escolas não expressam explicitamente seus preconceitos religiosos em relação ao tema e, ao mesmo, evitam infringir a Canadian Charter of Rights and Freedom, que desde 1982 já proibia e punia discriminações baseadas na orientação sexual. No entanto, a falácia do argumento da privacidade da vida sexual fica exposta no fato de que as únicas identidades sexuais que não são realmente faladas, que são reduzidas ao mundo da vida privada, são aquelas que divergem da norma heterossexual. O pressuposto da heterossexualidade encontra-se explicitamente exposto nas aulas de Ciência que abordam a sexualidade apenas pelo viés reprodutivo, pelos livros de literatura que abordam apenas o amor romântico heterossexual, e também pelo modelo da família nuclear que é constantemente reproduzido nos livros didáticos.
Esse cenário de exclusão apela para que o tema da diversidade sexual e de gênero seja incluído no currículo de formação de novas professoras e professores para que possam futuramente desenvolver estratégias de resistência ao currículo heteronormativo. A omissão e o silenciamento significam pactuar com a violência exercida contra estudantes gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. A escola deve ser também um espaço de formação de cidadania e de respeito aos direitos humanos, assim as (os) docentes devem ser encorajados a assumir sua responsabilidade no combate a todas as formas de preconceitos e discriminação que permeiam o espaço escolar. A navalha de Occam de educadores e educadoras, baseada no princípio da pluralidade sexual desnecessária, exclui do currículo as representações de mundo de estudantes gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, que resistem à matriz normatizante da sexualidade branca, ocidental, de classe média e heterossexual. Mas não podemos esquecer que navalhas também podem ser usadas no assassinato das minorias sexuais no Brasil, o que pode fazer de educadoras e educadores sutis amoladores de navalha diplomados e especializados.